Reproduzimos aqui no blog uma entrevista feita com o diretor do Sindipetro-RJ, Claiton Coffy, sobre a construção da FNP (Frente Nacional dos Petroleiros), uma alternativa à federação da categoria (a FUP, ligada à Central Única dos Trabalhadores - CUT). É uma história semelhante ao que os trabalhadores de TI (Tecnologia da Informação) de todo o país enfrentam hoje com a Fenadados, federação do nosso setor ligada à CUT.
Os problemas e os desafios que os petroleiros enfrentaram e ainda enfrentam podem servir de exemplo a nós, que estamos construindo, por meio da FNI (Frente Nacional dos Trabalhadores em Informática), uma alternativa de organização e de luta dos trabalhadores de TI; uma ferramenta independente das empresas e dos governos.
ENTREVISTA COM CLAITON COFFY - diretor do Sindipetro-RJ
Os problemas e os desafios que os petroleiros enfrentaram e ainda enfrentam podem servir de exemplo a nós, que estamos construindo, por meio da FNI (Frente Nacional dos Trabalhadores em Informática), uma alternativa de organização e de luta dos trabalhadores de TI; uma ferramenta independente das empresas e dos governos.
ENTREVISTA COM CLAITON COFFY - diretor do Sindipetro-RJ
Sindicatos de trabalhadores petroleiros, indignados com a atuação da FUP (Federação Única dos Petroleiros), ligada à CUT, constroem desde 2006 uma alternativa de organização. Eles criaram a FNP (Frente Nacional dos Petroleiros) e decidiram, em seu 3º congresso realizado em 2009, que irão formar uma nova federação da categoria.
Atualmente, a FNP é composta por seis sindicatos de petroleiros (AL/SE; Litoral Paulista; São José dos Campos - SP; Rio de Janeiro; Pará/ Amazonas/ Maranhão/ Amapá; e Rio Grande do Sul) e têm o apoio de oposições em sindicatos. Embora ainda não seja uma federação, a FNP já tem uma mesa de negociação à parte com a Petrobras.
Por que os sindicatos decidiram criar a FNP? Ao tomar posse o governo Lula, dirigentes sindicais ligados à FUP/CUT assumiram cargos na Petrobrás e no fundo de pensão Petros, e a FUP tornou-se braço do RH da Petrobrás no movimento sindical. O marco que levou à saída da FUP, em 2006, foi o ataque à aposentadoria da categoria para se adequar aos interesses dos acionistas da bolsa de Nova York. A FUP defendeu a posição da Petrobras da repactuação, um novo plano que transforma a aposentadoria de benefício definido (BD) para contribuição definida (CD). Este ataque equivale à reforma da previdência do funcionalismo público aplicada pelo governo Lula e defendida pela CUT em 2003, que também levou à saída desta entidade dos setores que estão hoje à frente da Conlutas e Intersindical na fundação de uma nova Central em junho deste ano. A essência da crítica à FUP é o seu papel de parceria com a empresa, atuando na defesa dos interesses da Petrobras contra os interesses dos trabalhadores; desmontando as lutas, para impor acordos rebaixados, com discriminações entre trabalhadores ativos e aposentados.
Que benefícios a criação da FNP trouxe aos trabalhadores? A FNP tem o papel de ser um pólo de resistência as ataques da empresa e do governo aos direitos dos trabalhadores em parceria com a FUP. A FNP teve um papel fundamental na campanha reivindicatória de Setembro de 2009 (data-base) e na luta pela PLR (Participação nos Lucros e Resultados), organizando as mobilizações e sendo um importante ponto de apoio às oposições sindicais para organizar a luta nas bases da FUP. Podemos afirmar, com certeza, que sem a FNP os acordos coletivos seriam muitos piores. Os aposentados e ativos ficariam órfãos na defesa dos seus diretos na Petros. Isso é decisivo; os petroleiros necessitam de uma nova direção para as suas lutas. Na minha opinião, este é o principal benefício, hoje, aos petroleiros com a existência da FNP.
Como acontece a campanha salarial dos petroleiros? Existem duas campanhas na categoria: a teatral da FUP e a real da FNP. Se os dirigentes da FUP são parceiros dos dirigentes da empresa, são amigos de bar, o que esperar? Existe uma chacota na base de que a FUP rejeita a proposta, marca a greve; um dia antes, tem uma nova proposta que desmarca a greve e indica a aceitação do acordo. Muitos comentam lá vem o teatro, lá vem a terceira proposta que a FUP vai aprovar. Com o surgimento da FNP e com base na disposição de luta da categoria, começamos a acabar com o teatro da FUP. A greve da PLR em Março de 2009 ocorreu contra a vontade da direção da FUP. Na campanha de Setembro, a categoria entrou em a greve nacional nos dias 15 e 16 de Outubro, organizada pela FNP. Na mesa de negociação ocorre o mesmo, temos uma negociação em parceria com o RH da Petrobras, comandada pela FUP. E temos a negociação da FNP com a Petrobras, que representa a verdadeira negociação, sem conchavos e parcerias. É óbvio que o resultado, o avanço ou não na negociação, depende do grau de mobilização da categoria.
Sindicatos da FNP entraram em greve em 2009 para pressionar
a Petrobras durante a campanha salarial.
As empresas do setor reconhecem as duas organizações? A Petrobras é obrigada a reconhecer a existência política da FNP e seus sindicatos porque, mesmo sendo 6 sindicatos no universo de 17, representamos cerca de 50% da categoria. Como falei anteriormente, na campanha salarial de 2009, pela existência da FNP a categoria realizou a primeira greve nacional sem a FUP. Hoje, estamos no processo de legalização da FNP enquanto federação, para termos a representação formal perante a Petrobras e demais empresas do setor.
A FNP encontra dificuldades? Todo o processo de construção de uma nova direção encontra dificuldades, isso é natural. Podemos afirmar, com certeza, que a FNP é a direção de uma parte significativa da categoria. Dirigimos 6 sindicatos, temos um peso fundamental na área de terminais da Petrobras, e temos inserção, via oposição, em bases importantes da FUP como nas refinarias de Campinas (SP) e em Macaé (RJ), que representa 80% da produção nacional de petróleo. Temos o apoio maciço das associações dos aposentados, devido a traição da FUP quando defendeu o fim do Plano Petros BD. Uma das dificuldades que temos, ainda, são os aspectos legais da entidade. A Petrobras usa isto para tentar nos desqualificar, mas estamos avançando e neste semestre vamos legalizar a FNP.
Quais são os desafios da FNP para o próximo período? Além dos aspectos organizativos, da representação legal e de avançar no relacionamento cotidiano com a categoria, por meio de boletins e jornais, o principal desafio para o próximo período é o fortalecimento da FNP, afirmando um sindicalismo independente do governo e de luta. Nós da Conlutas defenderemos também que a FNP seja parte ativa da construção da nova central, participando do Congresso de Unificação em Junho. Isso passa pela FNP estar à frente da campanha salarial e da PLR neste ano, da Campanha do Petróleo tem que ser Nosso, denunciando o entreguismo do governo Lula no novo marco regulatório do pré-sal. A FNP será um instrumento importante para canalizar a disposição de luta da categoria para ter conquistas. Este é um ano eleitoral e as direções da FUP/CUT farão de tudo para que não ocorram mobilizações para não prejudicar a eleição da candidata Dilma Rousseff, mesmo a um custo de acordos rebaixados e retirada de direitos.
* Entrevista concedida ao Comunicadados On Line em Março de 2010.
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